Crônica desta semana mostra implantação de redes ópticas no interior do Piauí

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Por Joaquim Carlos Fanton

Esta história também se passa em São José do Divino, no Piauí. Não exatamente no centro. Para ser preciso, eu diria que a uns mil metros da praça da igreja.

Quando realizamos a inspeção de aceitação de uma rede óptica, existe um roteiro a ser seguido. Grande parte das atividades relaciona-se com a visita aos prédios que estão interligados à rede. Em cada ponto de terminação de fibras, há um roteador energizado por um nobreak ligado a uma tomada e vários outros dispositivos e equipamentos acomodados dentro de um rack.

Mas uma parte das atividades consiste em correr a rede externa, observando altura e tensionamento do cabo, ancoragens, sustentações, reservas técnicas, emendas e coisas assim.

A rede óptica de São José do Divino é bem pequena. De ponta a ponta, a cidade tem dois quilômetros de extensão, e esse o comprimento de cabo que foi inspecionado. Não mais do que 50 postes.

O grupo de aceitação era composto por sete pessoas. Eu e outro representante da RNP (estávamos assumindo a responsabilidade pelas inspeções naquela viagem), um representante do Ministério das Comunicações que estava passando a responsabilidade, três representantes da empreiteira que implantou a rede e o secretário de Planejamento da prefeitura que a estava recebendo, que se chamava Francisco.

Quase hora do almoço, sol a pino, temperatura na sombra ao redor de 38 graus centígrados. Caminhamos desde a sede da prefeitura até o último ponto atendido pela rede, que era a delegacia de polícia.

Acostumado a andar, fui caminhando depressa e ganhando espaço do resto do grupo. Apertando o passo, Francisco me fez companhia. Em dada altura, ele viu um conhecido dentro de uma pequena lanchonete que ficava ao lado de uma oficina de motocicletas. Ele me contou que os dois estabelecimentos pertenciam àquela pessoa, que era também um dos vereadores da cidade. Fez questão de parar para me apresentar. Havia outras três pessoas no local. Pareciam ser mais amigos do que fregueses. Estavam sentados na varanda coberta de telhas de aço zincado. O calor ali era escaldante para meus padrões. Muito agradável para eles, que estão em pleno inverno por lá. Uma vez feitas as apresentações, o comerciante nos ofereceu caldo de cana recém espremido. Estava bem gelado e desceu muito bem. Pedi repetição, o que deixou o homem aparentemente muito feliz.

A pausa para o caldo de cana deu tempo do resto do grupo nos alcançar. Começamos a conversar. Foi uma conversa curta de não mais do que dois minutos. Francisco explicou a todos o que estava sendo feito. Empolgado com a confirmação de que o WiFi público já estava funcionando na praça, um dos amigos do vereador exclamou:

– Oba, é agora que vou poder ver mulher pelada na internet sem ter que pagar nada.

A internet é uma ferramenta incomparável. Através dela, temos acesso a milhares de fontes de informação, lazer e conhecimento e cultura, localizadas em qualquer parte do planeta.

Tentei explicar que a internet pode ser usada até para isso, sem dúvida, mas que ele deveria começar a pensar em tirar proveito daquela ferramenta.

Tentei contar a ele que um de meus filhos, que é engenheiro, fez uma graduação no MIT usando a internet. Mas logo desisti. Desconfiei que ele não fazia ideia do que era MIT, ou de qualquer outra instituição que fosse. Perguntei se ele já tinha estado em alguma cidade grande. Nunca, nem em Teresina!

Antes de seguir por uma estrada, precisamos saber para onde ela vai e o que vamos fazer no destino. Não podemos correr o risco de ser como Alice passeando pelo País das Maravilhas que, numa encruzilhada, perguntou a um gato que lá estava, por qual caminho deveria prosseguir e este respondeu perguntando para onde ela queria ir. Ela disse que não sabia, pois estava perdida. Então o gato respondeu que não faria nenhuma diferença a estrada que ela viesse a escolher.

Esse é o grande desafio que temos hoje em nossa sociedade. Precisamos decidir para onde queremos ir antes de iniciar a viagem.

*Joaquim Fanton é engenheiro eletricista pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com 38 anos de experiência em redes ópticas. Foi engenheiro de redes da Companhia de Telecomunicações do Paraná (Telepar), da Telecomunicações de São Paulo (Telesp), da Telebrás e do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD). Hoje, atua como consultor da RNP e participa da implantação de redes metropolitanas em fibra óptica, no âmbito do Programa Cidades Digitais. Ao percorrer o interior do país, acumulou histórias que serão compartilhadas no site da RNP.

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