Em seu último dia, o Fórum RNP 2024 trouxe ao debate um tema cada vez mais relevante para a sociedade: a sustentabilidade. Ailton Krenak, escritor, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e ativista socioambiental, discutiu a questão climática e como a integração entre ciência e os conhecimentos dos povos originários pode ajudar a combater os efeitos das mudanças no clima.
Na palestra, Krenak criticou o negacionismo científico e fez reflexões sobre o papel da ciência na sociedade. O ativista também foi questionado pelo público se acreditava que a sociedade está preparando pessoas para serem sábias ou se apenas formando tecnicistas. Para o escritor, é preciso estimular as pessoas a desenvolver as próprias ideias.
“Estamos há muito tempo nos esforçando em formar tecnicistas. Não estamos interessados que a pessoa desenvolva sua própria habilidade. Queremos produzir clones de cientistas. A possibilidade de criar um pensamento próprio é rebaixada como algo menor. Adoramos copiar. E isso não é sabedoria”, apontou.
A escritora e multiartista Rita Carelli participou do painel com Krenak. Para ela, a sociedade deve olhar para as culturas de outros povos da Terra, a fim de aprender com elas.
“Nossa sociedade tem se mostrado cada vez mais adoecida em vários aspectos. Precisamos olhar para os conhecimentos ancestrais com mais respeito e inteligência. Isso se quisermos botar a cabeça para fora deste buraco que cavamos. Ou ficaremos igual a um tatu, escondidos, enquanto o mundo aqui fora pega fogo”, acrescentou.
O futuro do planeta também foi tema de outra apresentação no Fórum RNP. A palestrante Márcia Barbosa, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), abordou as estratégias que podem ser usadas na promoção da sustentabilidade e da inovação no Brasil. Ela começou a apresentação mostrando os desafios da área.
“Em ciência eu posso errar. Jogo a folha fora e está tudo bem. Mas, na sociedade em geral, há menos chances de errar. Por isso, governos e empresas têm ficado mais limitados e entrado na geração ‘copia e cola’, que não ousa e que não vai ser inovadora”, disse.
Pesquisadora do CNPq e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Academia Mundial de Ciências (TWAS), Márcia Barbosa falou como as novas tecnologias podem ajudar na questão climática e estimulou o público a pensar em novos caminhos para a ciência e tecnologia.
“Temos que abandonar o ‘copia e cola’. Não há inovação se o resultado piorar o nosso planeta. E o que a gente faz? Vamos olhar para a natureza e acreditar que o Brasil pode ser este local. Com sua enorme diversidade, poderemos pensar as novas tecnologias para este mundo que também temos que salvar. Não adianta desenhar novas tecnologias que tornem apenas a minha vida mais fácil, mas também tecnologias que tornem mais fácil a vida de todos e também do planeta”, afirmou.
Primeira edição do Prêmio Ipê
No terceiro dia de Fórum houve a entrega do Prêmio Ipê a pessoas e instituições que deram contribuições de longo prazo à rede acadêmica brasileira e ao Sistema RNP. É a primeira edição do prêmio, que reconhece contribuições dos últimos dez anos. A próxima está prevista para acontecer daqui a cinco anos.
A cerimônia foi conduzida pelo diretor-geral da RNP, Nelson Simões. “É um momento especial em que agradecemos às pessoas e instituições que tiveram uma contribuição relevante, excepcional e de longo prazo na trajetória da RNP e da rede acadêmica brasileira. É uma alegria para nós podermos publicamente homenagear, nesta primeira edição do Prêmio Ipê, a dedicação e a contribuição dessas pessoas não só para a RNP, mas para o país”, disse.
Confira aqui a lista completa dos homenageados.