No Brasil e no mundo, infraestruturas de redes de telecomunicações têm sido cada vez mais requisitadas, uma clara consequência do crescimento exponencial do tráfego registrado nos últimos anos. Apontadas como o meio de transmissão mais eficiente para suprir as necessidades desse cenário, as fibras ópticas têm sido objeto de desenvolvimento de novos métodos de instalação, a exemplo da técnica de microvala, que é mais uma alternativa para sustentar a evolução das redes nacionais de telecomunicações.
Capaz de acelerar e diminuir o custo de instalação, o método, já amplamente difundido nos Estados Unidos e em diferentes países da Europa, consiste na canalização de cabos ópticos principalmente em solos urbanos e interurbanos, a partir da instalação de dutos de tamanho muito reduzidos, sob o asfalto ou cimento, denominados microvalas ou minivalas. Com diâmetro reduzido, a técnica possibilita a utilização de cabos ópticos mais finos, mas com a mesma capacidade das fibras ópticas tradicionais, sem a exigência de grandes obras ou onerosos custos de implantação.
Livres para futuras ampliações ou partilha com outros operadores, a solução demanda pouca ocupação das vias públicas, com as vantagens adicionais de permitir rapidez de instalação, resistência e confiabilidade no processo, flexibilidade de planejamento e baixo custo em eventuais casos de reparação. Sem instalações visíveis e sem a necessidade de postes de sustentação, a economia gerada também se dá pela dispensa de alugueis deste tipo de estrutura, desobrigando negociações com concessionárias de energia elétrica ou a realização de obras de escavação para fixação de cabos convencionais de fibra óptica.
Com uma estimativa de crescimento de cerca de 11 vezes do atual tráfego global de dados até 2018 – e previsão de alcance dos 190 exabytes anuais –, segundo dados do Relatório Cisco VNI, divulgado em 2014, o reflexo da expansão desse tráfego de dados é iminente também no Brasil. De acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a extensão total de cabos instalados, que em 2011 já somava um milhão de quilômetros e 27 milhões de quilômetros de extensão total de fibras ópticas, deverá aumentar cerca de nove vezes, entre 2014 a 2019, com uma taxa de crescimento anual de 56%, para atender a nova demanda.
Ainda em processo de regulamentação para a utilização dos elementos essenciais para a aplicação da técnica como, por exemplo, os microcabos, o tema espera os resultados de testes em laboratório brasileiro certificador, para normalização pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e homologação pela Anatel, para se fundamentar no país.
Em um esforço para divulgar o método e as vantagens alcançadas a partir da implantação das microvalas, a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), fomentadora do uso dessa técnica no Brasil, tem se mobilizado juntamente com entidades de classe, laboratórios de certificação, fabricantes de materiais, fornecedores, concessionárias de telecomunicações, pequenos provedores de banda larga e prestadores de serviços para regularização e uso dessa técnica no país.
O diretor de Engenharia e Operações da RNP, Eduardo Grizendi, é um dos defensores dessa solução de cabeamento. “Do ponto de vista técnico, o método de microvalas é um avanço. Resolve não apenas problemas relacionados ao uso de postes, que atualmente abrigam diferentes tipos de transmissões, como sinal luminoso, cabos de televisões a cabo e internet, mas contribuem diretamente para a utilização mais racional e responsável dos recursos. Há três anos, a RNP enxergou o potencial do uso dessa técnica e tem investido na divulgação das vantagens já constatadas por outros países”, concluiu.
Reunidos em grupos de trabalhos desde janeiro deste ano, tendo a RNP como participante ativa nos três Grupos de Trabalho, as instituições, que trabalham para ampliar o debate sobre o desenvolvimento de infraestruturas das redes avançadas, têm formulado propostas e promovido testes para a regulamentação de microcabos e demais acessórios para fundamentar as práticas e serviços relacionados à técnica.
Apresentado como uma alternativa eficiente para a implantação de rotas ópticas de telecomunicações, a expectativa é que se possa viabilizar e incentivar a implementação dessa técnica até o segundo semestre deste ano, especialmente em centros urbanos, onde a demanda por implantação de fibra óptica tem crescido vertiginosamente, por conta da expansão do FTTH – Fiber to the home.