Projeto leva internet e desenvolvimento para as zonas rurais

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Levar uma experiência de navegação na internet satisfatória para moradores de áreas remotas, principalmente das zonas rurais, de maneira economicamente viável. Esse é o objetivo do 5G-Range – Remote Area Access Network for 5th Generation, um dos seis projetos selecionados na 4ª Chamada Coordenada Brasil-União Europeia em Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC).  A ideia é possibilitar que a inclusão digital aconteça de forma completa, acabando com a restrição imposta atualmente pela limitação geográfica.

“O grande desafio quando a gente fala de áreas rurais está na questão do custo de operação da rede, porque temos um número menor de possíveis usuários. Logo, o custo de operação da rede tem que ser muito mais baixo para que o sistema seja financeiramente interessante à operadora e possa ser sustentada pelos usuários. A tecnologia que estamos desenvolvendo trabalha na faixa de UHF, que permite maior alcance e cobertura, mas que já está sendo utilizada por outros serviços, como a TV. A rede 5G voltada para as áreas rurais somente irá empregar os canais de TV que estejam ociosos. Acontecerá o uso oportunista do espectro”, afirma o coordenador de pesquisa do Centro de Referência em Radiocomunicações do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), Luciano Leonel Mendes.

Outro importante obstáculo a ser transposto é com relação ao alcance da rede. Atualmente, é utilizado o sistema celular, cujo diâmetro da célula gira em torno de 10 km. Tendo em vista que em áreas remotas a densidade populacional é baixa, não é possível atender um grande número de usuários nessa área. A tecnologia 5G pretende ampliar em dez vezes o tamanho da célula, de modo que o número de usuários cobertos pela mesma permita a viabilidade econômica da rede.

“Temos que ter, agora, um diâmetro de 100 km. Nossa proposta é aumentar a cobertura e manter a vazão perto daquilo que a gente consegue observar hoje com as redes ADSL. Ou seja, é levar a um raio de 50 km, taxas de 100 Mbps, para que a pessoa na borda da célula consiga ter uma experiência de navegação na internet satisfatória”, explica o professor Luciano.

A implantação da tecnologia terá impacto significativo no setor agrícola, porque grande parte desse mercado é desenvolvido por pequenos produtores localizados em regiões remotas. Com maior acesso a informações de aprimoramento do cultivo, possibilidade de monitoramento do gado e das mercadorias nos deslocamentos, a produtividade tende a aumentar vertiginosamente.

O projeto, único sobre Redes 5G selecionado na 4ª chamada, é resultante de uma parceria composta por um consórcio multidisciplinar de instituições brasileiras e europeias. Do Brasil, estão presentes Inatel, Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Ceará (UFC), Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), Universidade de Brasília (UnB) e Ericsson do Brasil. Do lado europeu, as universidades Carlos Terceiro de Madrid, da Espanha, Tecnológica de Dresden, da Alemanha e Oulu, da Finlândia, além da empresa Telefónica I+D, da Espanha. No Brasil, o apoio será de R$ 3,2 milhões e é feito por meio da RNP, utilizando recursos do fundo da Lei da Informática. Na Europa, serão aportados € 1 milhão do programa H2020 com duração de 30 meses.

A divisão das tarefas para o alcance do objetivo final aconteceu de acordo com as expertises de cada instituição do país e do exterior. O projeto tem seu início já em novembro e irá empregar grande parte dos resultados obtidos pelo Centro de Referência em Radiocomunicações do Inatel, que desenvolveu um transceptor 5G flexível, cujos testes de campo devem iniciar em setembro. 

Segundo a coordenadora do projeto no Brasil, professora da UNB Priscila Solís, serão realizadas atividades em Brasília, que envolverão operadores e órgãos reguladores, além de outros possíveis stakeholders, e servirão para comprovar que a tecnologia foi desenvolvida a ponto de gerar uma contribuição efetiva tanto econômica, quanto científica na área de 5G. “As experiências de desempenho irão acontecer em Santa Rita do Sapucaí (MG), onde será montada uma prova de conceito com uma demonstração levando internet a uma área remota, integrando avanços científicos nas camadas física, de enlace e rede para 5G, atestando que a tecnologia, embora ainda incipiente, tem potencial para atender à demanda das zonas rurais”, destacou.

Série: projetos selecionados pela 4ª Chamada Coordenada BR-UE em TIC

Esta matéria inicia uma série de reportagens em que apresentaremos com detalhes os seis projetos selecionados pela 4ª Chamada Coordenada BR-UE em TIC. O objetivo é que os pesquisadores tenham espaço para apresentar de maneira concreta o que será desenvolvido nesse período de três anos de atividades financiadas pela cooperação. No Brasil, a chamada é realizada pela RNP, por meio do seu Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologias Digitais para Informação e Comunicação (CTIC), sob a supervisão da Secretaria de Políticas de Informática (Sepin) do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

Na próxima semana, você conhecerá o projeto Plataforma Inteligente de Gerenciamento de Água (em inglês, Swamp).