Uma das peculiaridades que tornam a internet flexível é a sua estrutura descentralizada. Enquanto outras tecnologias podem ser controladas por uma empresa ou país, a internet é capaz de se adaptar diante de obstáculos e encontrar novos caminhos para se desenvolver. No entanto, a flexibilidade da internet segue princípios de hierarquia. Assim como as redes telefônicas, em que a ligação do usuário chega à uma mesa e depois é levada até uma central, em redes de computadores existe a figura do backbone, uma via que concentra o tráfego de redes locais e o leva até redes de hierarquia superior.
Ou seja, seu computador faz parte de uma rede local, que está conectada à rede do provedor, que por sua vez se interliga a redes metropolitanas e a uma rede de âmbito nacional. Uma rede do tipo backbone é a que concentra o tráfego de níveis inferiores e o transporta a níveis superiores, a fim de que a informação chegue ao destino final.
Como os primeiros desenhos de rede eram lineares e se conectavam a uma espécie de espinha dorsal, essa infraestrutura ficou conhecida como backbone, que, em inglês, significa coluna vertebral. Com a evolução da engenharia de redes, surgiram outras topologias, em formato de anéis ou estrelas, por exemplo, mas a referência à anatomia humana permaneceu a mesma.
No Brasil, o primeiro backbone nacional nasceu no ambiente acadêmico, para atender a institutos de pesquisa e universidades. Ele foi lançado em 1992, por um projeto do então Ministério da Ciência e Tecnologia, e interligava dez capitais brasileiras e o Distrito Federal. Com capacidade na época de 64 quilobits por segundo, foi a primeira rede de internet no país com enlaces interestaduais e alcance internacional.
Esse projeto deu origem à organização social Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), que opera a rede acadêmica, chamada Ipê, um backbone nacional que atende a mais de 1,2 mil campi e unidades em todo país. Sua capacidade é de alto desempenho, de até 10 gigabits por segundo, por se tratar de uma rede que atende a diversos centros de pesquisa que precisam transportar grandes volumes de dados. São as comunidades de física experimental, astronomia, biodiversidade, telemedicina, computação em grade e outras tantas que precisam vencer os desafios do big data para inserir a produção científica brasileira em um ambiente de colaboração global.
Em 2017, devido à maior demanda para transferências de dados, o backbone acadêmico da RNP deve ter a sua capacidade elevada em até dez vezes. Contribuirão para esse crescimento duas novas conexões internacionais, uma para os Estados Unidos e outra para a Europa, ambas com conexões de 100 gigabits por segundo. A maior capacidade facilitará a troca de grandes volumes de dados, assim como a colaboração entre brasileiros e pesquisadores no exterior.